Um Lugar...

Nosso principal objetivo é acordar o Ser Humano, apoiar os despossuídos e alertar os poderosos... usando a cultura e o pensamento para esbofetear os medíocres... ou não! Todas as histórias contadas aqui são verídicas, os nomes foram trocados para proteger os inocentes...


Roger Borges (Pesquisador, Jornalista e Blogueiro Ocasional)
Bruno Cavalcanti (Jornalista, Blogueiro e Pensador)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

"Metamorfose Ambulante"

Já tive mais, mas ainda possuo alguns bons livros em minha estante, alguns curiosos, outros que as vezes esqueço e lembro quando vou limpar o móvel. Encontrei um curioso livro de um autor que gosto, cujo jeito detalhado e frio de escrever me impressiona. 

O talentoso Franz Kafka, nasceu em Praga em 1883,  e após sua morte num sanatório, onde se internou com tuberculose, sua obra, revivida pelo amigo Max Brod, exerceu grande influência na literatura mundial. Seus textos retratam as ansiedades e a alienação do homem, contados com uma lucidez sintetizada a um forte traço irônico.
 
Cresceu sob influência de três culturas distintas: a judia, a tcheca e a alemã. Auto-declarado socialista e ateu, participa de grupos anarquistas, se forma em Direito e passa a dedicar-se a Literatura. Em paralelo trabalha em companhias de seguros, mas em 1917 afasta-se do trabalho devido a tuberculose. A maior parte de suas obras foram lançadas postumamente. 

Fez parte da chamada
Escola de Praga, um movimento de estilo literário que compartilhou com outros escritores de sua época. Além do detalhamento e realismo que já citei, seu estilo é marcado pela crueza com a qual descreve situações incomuns. Em seu texto O Processo, de 1925, ele retrata um personagem que é preso, julgado e executado por um crime que desconhece. Esse confronto entre personagens e o poder das instituições, demonstrando a impotência e a fragilidade do ser humano, é marcante em sua obra, e que nos deixa pensativos sobre tudo o qual não podemos controlar. Esse medo é o seu maior triunfo.

Em A Metamorfose (1915), livro o qual citei ter encontrado, o personagem principal acorda, e vê seu corpo transformado em um gigantesco inseto. A versão que tenho é um tanto antiga e possui outros pequenos contos do autor no final do livro. Em A Colonia Penal (1914) temos uma história absurda sobre uma Colônia que usa uma máquina para torturar e matar pessoas, sem que estas sequer saibam o porquê de sua morte.  

No mundo de Kafka, esses personagens não sabem que rumo podem tomar, não sabem seus objetivos, questionam seriamente a sua própria existência e acabam diante de uma situação que não planejaram, sem ter como sair dela. Essa temática de solidão, paranóia e delírios estão sempre presentes, sendo comum a existência de personagens secundários que espiam, e conspiram contra o protagonista, que no meu entender não é mais do que um fantasma do próprio Kafka, exposto ao seus medos e sua angústia perante o mundo.

Li apenas alguns de seus trabalhos, mas ficaram todos marcados em mim, pequenas porções de angustia que são espelhos dessa mente cheia de fantasmas e receios sobre a vida e o mundo. Recomendado, nem preciso dizer.

Algo de sua bibliografia:

Cenas de um Casamento no Campo (1907)
Considerações (1908)
Aeroplano em Brescia (1909)
Amerika (1910, 1927)
O Veredicto (1912)
A Metamorfose (1912, 1915)
A Sentença (1912, 1916)
Meditação (1913)
Contemplação: O Foguista (1913)
Diante da Lei (1914, 1915)
A Colônia Penal (1914, 1919)
O Processo (1914, 1925)
Um Relatório para a Academia (1917)
A Preocupação de um Pai de Família (1917)
A Muralha da China (1917, 1931)
Carta ao Pai (1919)
Um Médico Rural (1919)
Poseidon (1920)
Noites (1920)
Sobre a Questão das Leis (1920)
Primeiro Sofrimento (1921)
Cartas a Milena (1920, 1923)
Investigações de um Cão (1922)
Um Artista da Fome (1922, 1924)
O Castelo (1922, 1926)
Uma Pequena Mulher (1923)
A Construção (1923)
Josefina, a Cantora ou O Povo dos Ratos (1924)


By Roger "Mr. Samsa" Himura


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

As Escritas de Kerouac



Jack Kerouac, descendente de franco-canadenses, nascido em 1922, na cidade de Lowell, Massachusetts (EUA) – simplesmente mudou o rumo da história cultural e literária da América; deu um “soco na cara” da sociedade ultraconservadora norte-americana, quando lançou, em 1957, o emblemático, “On the Road – Pé na Estrada”, cuja obra, além de ser avaliada como uma bíblia dos Beatniks e o manual da contracultura para a primeira geração de Hippies e uma injeção de adrenalina na veia de jovens daquela década, e posteriores - que resolveram experimentar a vida no frenesi do jazz; ele [Kerouac] exalta os vagabundos andarilhos como “santos”, “iluminados”, pessoas puras que, em sua concepção, “sabiam como viver” e claro uma imensa admiração pelos negros e seu Bebop, um subgênero do Jazz, coisa banal para época, onde os EUA era um país totalmente racista e preconceituoso.

A adaptação cinematográfica deste livro, cujo título no Brasil saiu como “Na Estrada”, dirigido por Walter Salles, consegue transferir toda a essência escrita por Kerouac para às telas, porém, ler o livro, é uma experiência única e frenética.  Conheci essa publicação e autor há 7 anos e após isso, minha vida mudou drasticamente;  Jack consegui por nas páginas toda sua aventura e libertação de forma tão pura, explícita e detalhada que consegue fazer o leitor sentir-se junto de Sal Paradise (alter ego do escritor) e os outros personagens que aparecem ao decorrer da história. Essa adaptação fez voltar à tona toda a potência literária de Kerouac e a velha discussão: o beatnik tanto a literatura como o estilo de vida, ainda existem? Vários sites, bloggers e outras mídias colaborativas dão opiniões diversas: uns dizem que sim – o movimento existe, mas sem o fervor do original, e outros dizem que acabou. Já a literatura se mantém viva por conta das reedições dos artistas clássicos como Allan Ginsberg e William Burroughs. Mesmo que Pé na Estrada seja o principal trabalho, outras obras que fora lançada tanto anteriormente como posteriormente ao On the Road, merecem total atenção, pois são várias outras experiências que Kerouac descreve sempre misturando o ficcional com um “quê” de autobiográfico, assim como as obras “Almoço Nu”, do Burroughs, e, o “Uivo” do Ginsberg. Inclusive a versão do “Pé na estrada – o manuscrito original” é tão bom quanto à edição lançada originalmente, no qual a editora fez uma correção gramatical, pois o original não possui vírgulas ou qualquer outro ponto – ela foi escrita como se fosse uma Jam Session (sessão de improviso comum no Jazz) - vale a pena ler essa versão escutando jazz, de preferência o instrumental, porque você, leitor, verá que o ritmo da música combina com o estilo único que o autor compôs sua abra.

Embora não tive ainda há oportunidade de ler todos os livros, deste que é meu escritor favorito, desenvolvi uma teoria que há quatro obras que se lidas na sequência (e na ordem que descreverei a seguir), verá que uma é complemento da outra, onde mostra nosso herói buscando algo diferente: On The Road, Vagabundos Iluminados, Anjos da Desolação e Big Sur, este último, é o mais triste deles, pois Kerouac, fala abertamente sobre seu alcoolismo e de como isso está lhe destruindo.
Seguindo a sequência descrita acima, tudo realmente começa com a libertação material de On the Road, depois vai para a iluminação espiritual em Vagabundos Iluminados, o enfrentamento da loucura e solidão com Anjos da Desolação e as consequências dos abusos em Big Sur – Não sei ao certo de que essas obras se complementam, porém, de tanto lê-las, cheguei à conclusão que sim, uma complementa a outra, pois em todos os livros citados, o alter ego do autor, sempre está em busca de algo.

Percebo uma mágica e atemporalidade em toda obra de Jack Kerouac, pois a cada década que uma nova geração encontra suas escritas sagradas, influencia o leitor no ato, chega a ser surreal o poder que os livros do Jack têm a ponto de sempre estarem atuais, mostrando ao ser humano que sempre tem que partir em busca de algo para poder saciar seu corpo e alma – que sem isso sempre nos sentiremos incompletos e infelizes. 


By Bruno "Off The Road" Barni