Deito sonolento em minha cama, me cubro, então caio
em sono profundo – quando acordo, estou vestido com minha velha jeans azul,
camisa preta, calçando meu all star branco, sujo e surrado. Estou em um bar
cujas paredes, chão e balcão são todos de madeira, no canto do salão, na única mesa
ocupada, está um homem com pouco cabelo, quase careca, óculos, fumando cigarros Dunhill, com o auxílio de uma piteira - reconheço, mas sem acreditar ainda,
que àquele homem é meu herói jornalista, Hunter S. Thompson, então, aproximo-me
dele, observo que sobre a mesa há uma garrafa de uísque Chivas e um copo a
mais, ele me vê, sorri, e sem falar nada, Thompson enche o meu copo, e fala
saúde. Eu viro o copo em uma única dose, acendo um cigarro e sento-me à mesa.
“Onde Estou?” - pergunto ainda sem entender nada - ele me olha, enche novamente nossos copos e fala: “Barni, estamos em sua mente,
você queria aprender sobre como se tornar um jornalista completo como eu, pois
bem, vim aqui te dar umas dicas de como ser um Jornalista Gonzo”. Fico
perplexo, acendo outro cigarro [e ele também], então começo a perguntar como
devo reagir em uma situação, por exemplo, de confronto, ele começa a rir e fala
que simplesmente devo ir para cima da confusão, sem me importar com nada, viver
àquele momento de violência e terror (assim como ele fez com a gangue Hell
Angels, que fora tema de seu primeiro livro publicado, onde conviveu quase um
ano com os caras e ainda apanhou de alguns deles), estar no “olho do furacão”,
pois assim, após recolher os relatos de outros participantes, poderá incluí-los
junto à sua perspectiva do fato e assim relatá-lo com veracidade e crueza de
alguém, mesmo que de forma indireta, presenciou tudo de perto. Viro outra
dose de Chivas, pois estou impressionado, realmente é ele! O DOUTOR, morto há
11 anos, em meu sonho, mas isso não pode ser um sonho, é muito real para ser um
fruto produzido pelo meu subconsciente, entretanto, após virar a dose de
uísque, sinto a bebida queimar minha garganta e, novamente ele me enche o copo.
Respondo a Hunter que realmente o quê ele acaba de me dizer faz todo o sentido,
pois se relatasse algum fato sem ter vivenciado perde-se muito na hora de
relatar o horror do momento.
“Rapaz, quando você escreve um artigo, você, além
de por todo seu conhecimento, tem que por sua alma àquele texto, seja ficção ou
não, se não se dedicar totalmente a ele, sairá uma bosta!”, me fala o doutor,
após virar seu copo de uísque e fazer um movimento com a mão direita -, logo em
seguida, vem o garçom, com um balde cheio de cervejas da marca Budweiser e
enche novamente nossos copos de Chivas e se distancia, voltando ao balcão.
Cada um pega uma longneck e abre, brindamos juntos
e damos um longo gole em nossas respectivas bebidas, em seguida olho para a
bebida e para ele e pergunto:
“Doc... afinal, como você escrevia com uma
quantidade enorme de álcool e drogas no corpo, como conseguia?”
“Olha se combinar a dosagem certa de drogas com álcool
você consegue entrar em um frenesi que ajuda e muito, mas, às vezes fica tão
chapado que não faz nada. Após eu ter parado com o uso de narcóticos, continuei
a escrever com o auxílio da bebida, ela ajuda a estimular e manter sua mente
relaxa para que possa tê-la a disposição para conseguir criar um belo artigo.
Contudo, é necessário acostumar seu corpo e mente a produzir com o auxílio de
bebidas, muitos não conseguem e simplesmente fazem merda, entretanto quando
conseguem, fazem ótimas reportagens, como as minhas, por exemplo. (risos).”
Depois desses nossos breves diálogos, sinto-me mais
relaxado e menos preocupado em saber se é um sonho ou não, aproveito o momento,
bebo mais um belo gole de cerveja, acendo outro cigarro e vou curtindo a
situação, e Thompson faz o mesmo. Ele me olha me analisa e então me pergunta o
porquê do meu medo de não me tornar um excelente jornalista, ele diz que ele
sente que tenho jeito e áurea para me dar bem na profissão; explico a ele,
brevemente, sobre a situação atual da área de jornalismo no Brasil e que ainda
sou “limitado” aos olhos do mercado – Hunter mata sua breja, joga a garrafa
longe, ela estoura, ele vira sua dose de uísque, acende outro cigarro,
levanta-se de forma brusca da cadeira, aponta o dedo para mim e aos berros
fala: “Porra moleque, por que dessa porra de medo caralho? Você sabe que me
fodi pra porra até me tornar o quê sou, então seu merda, corra atrás, mesmo que
vários babacas engomadinhos falem ‘não’ pra você, mande todos eles por inferno
e corra atrás, quando se nasce pra isso [assim como eu] e quer ser realmente
jornalista, um ‘não’ é igual a nada! Corra atrás que você de tanto insistir,
algum editor com “feeling” verá que você é bom e aí empregado, você mostra que
você é ‘o Cara’! Mostrando toda essa ‘agressividade’ e talento que tem no
trabalho se tornará um excelente profissional!”.
Após esse esporro do doutor, eu acordo em minha
cama às 4:35 da manha, vejo que fora um sonho, porém, sinto o gosto o uísque em
minha garganta....