Vou hoje falar um pouco sobre um cineasta do qual sou fã de carteirinha, mas na minha opinião um dos mais incompreendidos que existe (sim ,existem outros). Um pouco por causa de produtoras que insistem em vender seus filmes como "Blockbusters", o lançando até no chamado "verão americano" onde filmes de ação e fantásticos são a principal atração. Aqui no Brasil não foi muito diferente e todos foram vendidos como "misticos" e, na onda de seu filme mais conhecido, como aqueles de "final surpreendente". Tudo isso aliado a uma cobrança alienada de uma repetição desse recorrente tema de "não conte o final". Não me surpreende é o fato dele ser tão odiado pelo público em geral, que compram uma coisa e levam outra, digamos muito melhor, mas não são capazes de entender as nuâncias, as metáforas a poesia e até as críticas envolvidas em seu trabalho que tanto encanta críticos e o público que se interessa por esse tipo de "cinema autoral".
Manoj Nelliattu Shyamalan, ou simplesmente M. Night tem um jeito no mínimo fantástico de filmar, posicionar a câmera, o cara sabe o que faz e espero que continue a fazer assim sempre. Não é a toa que é um dos mais bem sucedidos diretores em solo americano. Na verdade M. Night nasceu na India, mas veio morar na Filadélfia em sua infância. O cineasta, agora com 42 anos, faz filmes desde a adolescencia e possui a característica de participar de todos eles.
A fé, religião e situações extra ordinárias são temas recorrentes no trabalho do diretor, seus personagens sempre parecem se entregar a trama sem medo e até dizer uma fé cega por ela. É o que geralmente se nota nesse seu tipo de cinema autoral, onde o jeito que ele conta a história é o que realmente importa, os atores e a trama ficam em plano de fundo e sua maestria em detalhar a mesma é o que brilha, transformando até astros como Mel Gibson e Bruce Willis em pessoas comuns que voce tem certeza que poderiam ser seus vizinhos. Ele consegue aproximar seus temas fantásticos ao mundo real, o qual ele próprio ja relatou ser um "mundo" a parte, diferente do nosso. O seu modo de ver a história por traz da história, colocar uma situação para mostrar uma outra, te levar por um caminho desconhecido e depois te mostrar que não era esse caminho que ele queria que voce seguisse são de tirar o fôlego, sua câmera mágica passeia pelas cenas como se quisesse te mostrar como ele vê esse mundo diferente que ele mesmo criou. Bom posso ficar muito tempo exaltando os talentos do senhor Shyamalan, mas vou fazer um resumão do seus trabalhos, só pra que entendam a paixão de alguns (eu) e o ódio de outros.
Praying with Anger: de 92, seu primeiro projeto, conta a história de um adolescente alienado e americanizado de herança indiana que regressa à Índia onde descobre, não só as suas raízes mas a sua identidade.
Wide Awake (Olhos Abertos): de 98, esse já com uma melhor produção/distribuição, simboliza praticamente todos os temas abordados por ele,
em especial a crença e a fé. O
roteiro começa guiando a vida de um menino, Joshua, que estuda num
colégio católico, estritamente separando o lado feminino do masculino, porém com mais tons
humorísticos e sem muito suspense. É quando Shyamalan, com
muita perspicácia de sua parte, sem cobrar ou mudar o tom
de seu protagonista, insere a grande caminhada do filme: a procura de
Deus. Com Denis Leary e Rosie O'Donnel.
The Sixth Sense (O Sexto Sentido): 1999. Seu maior sucesso e triunfo, ao mesmo tempo seu carma, depois disso todos esperam um outro filme parecido, já sentam na cadeira do cinema com essa intenção e quebram a cara. Bruce Willis fantástico. Também com Haley Joel Osment (para quem não sabe ele fez o filho do Tom Hanks em Forrest Gump, também A.I. e Bogus (aquele com a Whoopi Goldberg e Gerard Depardieu), entre outros). Final surpreendente e Shyamalan como médico, já tudo muito falado.
Unbreakable (Corpo Fechado): De 2000, explícito exemplo de vender "gato por lebre". Anunciado como filme místico, e com o fantasma do filme anterior na porta o tema gera em torno de como seria um "super ser" no mundo real (Heroes??) fora das HQs, que tivesse medos, receios e que procura pelo sentido de sua vida; é uma verdadeira história de "heróis", com um cara praticamente "indestrutível" (taí o título "Inquebrável") Bruce Willis, e seu "nêmesis" Samuel "Motherfucker" Jackson, o vilão, que é como vidro e se quebra por qualquer coisa (ele tem osteogênese imperfeita). Assistindo nessa perspectiva o filme se torna muito agradável. O Sr. Shyamalam aparece como um traficante aqui.
Signs (Sinais): 2002. Outro vendido errado como invasão alienígena. Mel Gibson um homem que perdeu sua fé, deve vencer essa batalha consigo mesmo para salvar sua vida e de sua família. Novamente o tema fé - personagem que deve seguir um caminho, para atingir a vitória, conquistar uma luta vencendo seus próprios medos internos e seguindo até o fim. Com o grande Joaquim Phoenix (que é irmão do falecido River Phoenix, do Stand By Me (Conta Comigo) e também fez o jovem Indiana Jones na "Ultima Cruzada", etc). O personagem do Mel Gibson perdeu sua esposa num acidente, onde foi atropelada pelo personagem vivido pelo M. Night. Muito bom, gosto muito desse.
The Village (A Vila): De 2004, um dos meus favoritos, também com uma boa reviravolta de roteiro, e uma ótima história. Outra vez o personagem é envolvido num caminho a ser precorrido, sozinho, para compreender a si mesmo e sua existência. Trata da maldade humana, que mesmo criadas longe da civilização e sem contato com o mundo exterior, as pessoas desenvolvem sentimentos como inveja e ódio, sentimentos esses adormecidos em nossa própria alma, provando que estes sintomas podres fazem parte de nossa natureza e é assim que o ser humano se porta. Novamente ótima atuação de Joaquim Phoenix, também está lá William Hurt e a maravilhosa Bryce Dallas Howard espetacular nesse filme, como a escolhida para ir além das florestas, para o "mundo exterior" exatamente por ser cega, para que não visse o que havia além dos muros da comunidade em que vivia. E do outro lado encontra um posto policial, onde um guarda, M. Night, lê um jornal (rs).
Lady In The Water (A Dama na Agua): Depois da Disney cansar de vender errado os filmes do Shyamalan foi a vez da Warner, lançando esse filme no verão americano, para concorrer com Blockbusters. Filme totalmente alternativo, conta uma uma real história de fadas. Com uma bela introdução o cineasta nos convida para sairmos do nosso mundo e participar do seu, onde ele próprio aparece, aqui como o "escolhido", mandando um recado explícito aos críticos, que não importa o que falem assim ele é, não mudará por causa de ninguém (essa atitude é o que mais me impressiona alias, muitas acham que é de mau gosto, egocentrismo, mas eu acho só "atitude", fazer o que gosta sem limites). O filme é cheio de metáforas e como jogo de câmeras fantástico. Baseado numa história que Shyamalan contava as filhas, o roteiro segue para Cleveland Heep ( o sempre surpreendende Paul Giamatti) um homem solitário que, numa noite, ve algo que muda drasticamente sua vida. Ele encontra em seu prédio uma jovem misteriosa chamada
Story (novamente Bryce Dallas Howard), que aparece entre as passagens sob a piscina.
Surpreso, descobre que Story é uma "narf", uma espécie de
ninfa, e que ela é perseguida por criaturas
malignas, que desejam impedir que ela retorne ao seu mundo de origem, o Mundo das Aguas. Juntos, Cleveland e
os moradores de seu prédio, se unem para encontrar um meio que permita
Story a retornar ao seu mundo. Maravilhoso.
To Be Continued....
By Roger "I See Dead People" Himura
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